quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Desminar mentalidades assimétricas, precisa-se

     Chega a ser frustrante lidar com a estupidez com que algumas franjas privilegiadas da nossa sociedade absorvem e processam a mal digerida teoria boçal, segundo a qual tudo aquilo que não está na capital não tem valor. Trata-se da detestável ideia-fixa personalizada na máxima doentia de que Angola é Luanda e o resto  mera e inóspita paisagem. Viver fora da influência buliçosa da capital tornou-se, por assim dizer, sinónimo de imperdoável burrice, vejam só.
     E o que dói mais, caros senhores, é constatar que entre os adeptos da luandização do país aparecem insuspeitos responsáveis governamentais, entre os quais ministros, cuja esfera de acção supostamente deveria abranger a malha territorial angolana, no seu todo. Mas volta e meia tropeçam na sua deficiente retórica e deixam à nú o que lhes vai na alma. “ -Estamos a fazer um grande esforço para resolver o problema de transportação que afecta o país, já lançamos vários autocarros esta semana em Luanda”, perplexos, já ouvimos declarações do género a passarem nos noticiários da rádio e da televisão.
     Meu antigo professor de Filosofia do Direito, o padre Cassanji Santos, lançou recentemente um livro em Benguela, cuja abordagem introspectiva e visionária surpreenderia muita gente dita grande, se estes se dessem ao trabalho de o ler. O reverendo pesquisador deu-lhe o sujestivo título: “REPENSAR O HOMEM NA ANGOLA DO SÉCULO XXI-Uma antropologia em perspectiva”.
     “As instituições democráticas que vamos criando, desmoronar-se-ão se os cidadãos carecerem de certas virtudes, visto que, a saúde de uma democracia depende não apenas da estrutura das suas instituições, mas também das qualidades dos seus cidadãos, alertou o padre Cassanji referindo-se ao cenério concreto do nosso país, Angola, que saíu de um longo período de conflito e procura de forma ágil o seu espaço no conjunto das Nações, tendo como “foco central o Homem angolano naquilo que são os seus múltiplos desafios éticos, espirituais e humanísticos, conforme prefaciou o Dr. Octávio Serra Van-Dúném.
     Vivemos um momento em que uma nova era parece querer despontar; seria também altura de se retomar o processo de desminagem de algumas mentes que, desgraçadamente, têm responsabilidades de liderança à vários níveis. Lutar sem tréguas contra as mentalidades assimétricas, precisa-se com urgência. Os problemas não se resolvem por simplesmente manifestarmos a intenção de querer resolvê-los. Liderar, qualquer que seja o cargo de responsabilidade, é obra para gente “séria, equilibrada”, capaz de governar com “carácter e personalidades firmes e que consiga “influenciar positivamente”, não só por palavras mas sobretudo e muito mais pelas acções, como escreveu o padre Santos. Urge repensar Angola, de Cabinda ao Cunene e do mar ao Leste, como já se gritou neste país.





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