terça-feira, 26 de janeiro de 2010

CAN ORANGE 2010: Não existem mais blocos em África


 FARAÓS ELEITOS EM BENGUELA : QUAIS  DOIS BLOCOS AFRICANOS?
     Alguns adeptos tidos como bem informados e certos jornalistas encanudados (com canudo, literalmente) costumam classificar estruturalmente o futebol no continente africano segundo critérios geográficos e sociológicos. Assim, temos o futebol do Magreb, na chamada África Branca, no qual se inserem três participantes do actual Can-Orange Angola 2010: O Egipto, a Tunísia e a Argélia. O outro futebol africano é o futebol da chamada África sub-sahariana, a África negra, propriamente dita. A julgar por tais critérios informais e de sustentabilidade duvidosa, os dois lados representariam, então, realidades diferenciadas e até certo ponto antagónicas. Contudo, como sempre acontece no desporto, nem tudo o que parece ser uma certeza, o será necessariamente. O próprio futebol vem desestabilizar essa valoração ou divisão, com a sua impressionante capacidade aglutinadora. Na hora de se arregimentarem simpatias, vemos aquelas barreiras pretenciosas sucumbirem, ante a beleza intrínseca do próprio futebol. Quando as selecções do Egipto e da Nigéria baixaram ao relvado do Estádio Nacional de Ombaka no jogo inaugural do CAN 2010, era suposto, ambas representarem os referidos dois blocos continentais. Tínhamos, assim, de um lado, um Egipto puramente magrebino e, por outro, as “Super-Águias” como legítimos representantes da África sub-sahariana. Por inerência da proximidade geográfica e da afinidade sócio-cultural, o nosso público estaria predestinadamente do lado dos rapazes do veterano Kanu. Recordo que já fomos insaciáveis consumidores das quase intermináveis faixas musicais nigerianas, capitaneadas pelo grande sucesso “sweet mother” (Doce Mãe) que o nosso povo aporfilhou com o sugestivo nome de “Simoda” e que ainda hoje continua a fazer furor em versões actualizadas. Dos árabes, passa-me vagamente pela memória uns acordes chorosos do Kalehd, ou qualquer coisa assim, a gritar “arisha, arisha mon amour”. Mas vamos ao que interessa. O jogo então começou no estádio de Ombaka. A Nígéria recebeu mais aplausos na entrada e pensou :” Este público é nosso”. Toca daqui, toca dali, a bola ia rolando e os aplausos começaram a ficar “fifty-fifty”. O público começou a aperceber-se que de um lado, da Nigéria, tinha 11 jogadores, talentosos sim-senhora, mas do outro estava uma equipa coesa, jogadores habilidosos mas muito disciplinados taticamente, a dilinearem jogadas com cabeça, tronco e membros. Cada nigeriano pretendia resolver as coisas à sua maneira, com lances de puro individualismo. Então os aplausos começaram a pender para o lado dos mais organizados colectivamente, de tal monta que surgiram três golos para o Egipto e um para as “Super-Águias”. E assim ficou o resultado. Todavia, mais que uma vitória, os “faraós” lograram obter a simpatia do público e fizeram por merecer essa escolha. Os egípcios (ouvi um cidadão a tratá-los por egipcianos) foram elegantes no trato com os locais e receberam os seus aplausos em todos os jogos, mesmo quando jogaram contra os nossos irmãos do índico, cujo guarda-redes deu bandeira ao defender uma bola-fácil com um salto mortal para à frente e saíu até na Globo-TV como pagador de mico. Por pouco não aconteceu o pior, ou seja, o "keeper"  partir o pescoço. Moral da História: Podemos sim falar em estilos no futebol, em escolas tradicionais, cujos padrões também se vão volatilizando pouco e pouco. Mas nunca acitar barreiras estáticas em razão de categorias, muitas vezes estabelecidas atravès de critérios mal-intencionados. A força do futebol é impetuosa e derruba-as à todas.


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