quarta-feira, 8 de junho de 2011

Alto-Catumbela: ameaça de tragédia ambiental na antiga celulose

     O alerta dramático volta a ser lançado a partir do Alto-Catumbela: a fábrica de papel e celulose no município da Ganda (província de Benguela) possui 20 toneladas de produtos químicos  tóxicos com prazos expirados armazenados em condições inapropriadas. A possibilidade da ocorrência de um sinistro no local assumiria as consequências de desastre ecológico sem precedentes em Angola.
     Os efeitos da libertação de gases tóxicos se estenderiam a um raio de até 80 quilómetros e o material pode afectar o principal curso de água da região, visto a empresa situar-se numa das margens do rio Catumbela. O responsável da comissão de gestão da empresa Evaristo Calumbo que confirmou as preocupantes noticia. 
     Segundo o responsável, existe o risco de fuga dos químicos que estão armazenados durante mais de 20 anos. Trata-se de sulfato de alumínio, enxofre, cloro e resinas. As condições ter-se-ão deteriorado nos últimos anos e, por consequência a segurança na instalação é precária. Os 122 trabalhadores que lá se encontram a "aguentar" , sobrevivem da venda informal de eucaliptos para carpintarias. Todos estão muito descontentes pelo abandono a que foram votados.
     Não se trata de alarme falso. O risco foi igualmente confirmado pelo responsável do Ministério do Ambiente na província Dr. Justo Kalandi. Ele disse que há alguns anos uma equipa multisectorial incluindo especialistas em guerra química das Forças Armadas Angolanas trabalhou no Alto-Catumbela e elaborou um relatório que foi encaminhado às estruturas centrais, mas até ao momento nenhuma medida foi tomada. O assunto já extravasou as competências e capacidades das autoridades da província.
      Um antigo responsável do Ministério da Indústyria na província de Benguela considerou ser uma grande preocupação o armazenamento de químicos fora das condições normativas e sem meios humanos e materiais para acudir a uma situação de desastre. A indústria do Alto Catumbela utilizava os químicos no processo de fabrico de papel. São substâncias consideradas perigosas com efeitos nocivos sobre a saúde pública.
     Nos anos que se seguiram à paralização da actividade fabril em 1983 os produtos tóxicos deveriam ter sido retirados por técnicos especializados e acondicionados em lugar seguro. Tal não aconteceu e agora não vale a pena chorar o leite derramado, no que seria a atitude mais sensata.
     Sem ser especialistas na matéria, não pretendemos alarmar sobre as consequências nefastas de um eventual derrame ou escapamento. É certo que para ser considerado catastrófico tem de produzir-se um fenómeno em larga escala. As consequências dependerão sempre da concentração químico em si, do tempo de exposição, da quantidade, do clima na hora do eventual acidente, da condição física dos afectados e até do sexo.
     Informações que recolhemos com base no actual nível tecnológico e de conhecimento na indústria química desaconselham completamente a existência desses produtos em ambientes de precariedade.
     A libertação acidental numa extensa área a partir de uma fábrica ou recipiente, de uma grande quantidade dos citados químicos, sobretudo o cloro, conduz à uma exposição porque a substância entra no ambiente. O contacto dá-se pela inalação ou ingestão ou através da pele. O cloro se liberta na água ou nos solos causando danos. Quando se escapa na atmosfera ele evapora rapidamente formando uma nuvem verde-amarelada que se pode espalhar longe da fonte original.
     A Agência de Protecção do Meio Ambiente dos EUA considera o cloro gasoso demasiado reativo. Quanto ao sulfato de alumínio também existe no local e anteriormente era utilizado como agente nos resíduos de água utilizados no fabrico de papel. Um alerta de saúde considera existir uma relação entre o sulfato de alumínio e o mal de alzheimer.
     A História regista o dia 3 de Dezembro de 1984 como data do maior desastre químico do mundo, quando, por negligência humana, 40 toneladas de gases tóxicos vazaram de uma fábrica de pesticidas em Bhopal, na Índia. 27 mil pessoas morreram devido a inalação e mais de meiio milhão foram expostas ao gás. 50 mil pessoas ficaram com incapacidade permanente para o trabalho e até hoje as crianças que nascem na região afectada apresentam problemas de saúde.
     O Alto-Catumbela exige uma intervenção imediata das autoridades para prevenir a desgraça que se desenha se a negligência persistir. Os grupos ambientalistas, muito em voga por sinal nos últimos tempos na capital do país, têm uma excelente oportunidade de engajamento.





1 comentários:

Nando disse...

De louvar essa tua preocupação com o que pelos vistos não preocupa ninguem.É que como escreveste numa das tuas crónicas não é só Luanda que fica longe, o Alto é mais longe ainda mesmo que a viagem seja só ao contrário.Não sei se a Proteção civil tem meios para retirar os quimicos, mas a Sonangol tem de certeza pelo que seria uma demonstração de engajamento e responsabilidade social da maior empresa angolana proceder à sua retirada.Só lhe ficaria bem e seria um excelente serviço prestado à comunidade.Se não for assim mais cedo ou mais tarde, de maior ou menor envergadura haverá um acidente e haverão seguramente perdas humanas a lamentar.