É inquestionável que necessitamos afirmar um papel cada vez mais activo na região e no Mundo, sem quaisquer complexos de inferioridade, como actores sobre os quais recaem responsabilidades de liderança na solução de determinados conflitos e de uma maneira geral na manutenção da Paz no mundo.
Angola possui bases constitucionais para prossecução da sua política externa, estabelecendo relações com outros Estados, Organizações internacionais e com todos os sujeitos do Direito Internacional. Creio que nesta vertente da legalidade constitucional, que originou a criação da Misang agimos em conformidade. Porém, se alguém pensou que a ida do nosso pessoal para a Guiné no quadro da referida missão seria um mero passeio, claro que está enganado. Há um preço a pagar.
Já se fala numa "lógica militar" neste país africano. As tensões que se geram com os sucessivos golpes e levantamentos militares derivam da fragilidade das instituições estatais e provocam, em contra-ponto, devido a sua posição geo-estratégica, a emergência da ameaça do narcotráfico, de tal sorte, que se tornou problemático distrinçar o que é causa e o que é efeito e onde começa uma e acaba (?) a outra.
A Guiné já configura o que conceitualmente se designa por Estado falhado. Institucionalmente as suas hierarquias são altamente conflituantes. Sectores da própria ONU guindaram o país para o rol dos narco-Estados. Tudo leva a crer que se encontram em acção na Guiné-Bissau ramificações de gigantescos e poderosos "gangues" que se infiltraram no aparelho estatal e sobretudo na chefia castrense. Sucedem-se evidências de que o narcotráfico suporta candidaturas políticas.
O que nos resta agora? Mandar de volta o nosso pessoal e que os guineenses resolvam eles próprios os seus problemas? Talvez até fosse sensato se pensarmos nos constrangimentos que podemos sofrer se se observar uma degradação da situação no terreno e o despoletar de uma espiral de violência que obrigue os nossos soldados a agir "manu militari" em situação de auto-defesa.
Os golpistas apresentaram publicamente o nosso país como sendo mentor de um alegado plano secreto para desmantelar as forças armadas locais. A fase seguinte na "lógica militar" guineense não será nos considerarem um corpo expedicionário, invasor, que deve ser combatido de armas na mão? Que novos cenários se abririam então no conflito?
Quem conhece sabe que nestas questões não se deve ver apenas a árvore, separada do seu contexto, que é a floresta. Possuimos um histórico referencial resultante da nossa postura no conflito que grassou a Costa do Marfim. Merece ser abordado analiticamente em todas as suas etapas.
No caso concreto, deveremos assumir o fracasso da Misang como debilidade estratégica da nossa política externa? Em realidade, teremos de lidar com o problema, quaisquer que sejam as dinâmicas subsequentes. Contudo, se pretendemos prosseguir como parte da solução, urge uma reavaliação aprofundada do problema da Guiné-Bissau. Refiro-me a uma análise altamente especializada, atravès da qual se identifiquem e se estabeleçam nexos entre acontecimentos históricos e a realidade actual.
No caso concreto, deveremos assumir o fracasso da Misang como debilidade estratégica da nossa política externa? Em realidade, teremos de lidar com o problema, quaisquer que sejam as dinâmicas subsequentes. Contudo, se pretendemos prosseguir como parte da solução, urge uma reavaliação aprofundada do problema da Guiné-Bissau. Refiro-me a uma análise altamente especializada, atravès da qual se identifiquem e se estabeleçam nexos entre acontecimentos históricos e a realidade actual.
Assim, poderemos entender os complexos meandros dos eventos que ocorrem no presente e prever desenvolvimentos futuros. Não se trata de uma renúncia aos nossos compromissos internacionais, nem perdermos o fio à consolidação da nossa crescente influência na questão da segurança na região do golfo da Guiné e de uma forma geral no continente. Em nenhum momento devemos perder de vista a nossa "expectatica estratégica". Angola tem uma palavra a dizer na luta pela reconciliação de África "consigo mesma", vincando-se como unidade destacável, como parte da solução para as crises na região e no continente. Darmos a nossa quota parte nos esforços para a garantia da Paz e da estabilidade internacionais.
Todavia ainda temos algum trabalho de casa a fazer.
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